O consumo de café por crianças é um hábito culturalmente comum em algumas regiões, mas biologicamente inadequado. A cafeína é uma substância estimulante que atua diretamente no sistema nervoso central e no metabolismo, podendo interferir no sono, no apetite e no desenvolvimento ósseo infantil. O organismo das crianças, por ainda estar em formação, tem menor capacidade de metabolizar a cafeína, o que aumenta o risco de efeitos adversos mesmo com pequenas quantidades.
Entre os principais malefícios do café na infância estão a irritabilidade, a insônia e a dificuldade de concentração. A cafeína também eleva a frequência cardíaca e pode causar dependência leve, levando a sintomas de abstinência como dor de cabeça e fadiga quando o consumo é interrompido. Além disso, o café possui propriedades diuréticas, que podem contribuir para leve desidratação e perda de minerais essenciais, incluindo cálcio, elemento fundamental para o crescimento e a saúde dos ossos e dentes.
Um ponto frequentemente negligenciado é a relação entre o consumo de café e o refluxo gastroesofágico. A cafeína reduz o tônus do esfíncter esofágico inferior, facilitando o retorno do conteúdo ácido do estômago para o esôfago e, em alguns casos, até para a orofaringe. Em crianças predispostas, isso pode agravar quadros de tosse crônica, pigarro, rouquidão e sensação de garganta irritada — sintomas muitas vezes confundidos com infecções respiratórias recorrentes.
Essas manifestações têm grande relevância para o otorrinolaringologista, pois o refluxo laringofaríngeo é uma causa importante de sintomas otorrinolaringológicos persistentes, como otite serosa, rinite posterior e disfonia. Em muitos casos, a eliminação de agentes irritantes, como o café, é uma das primeiras medidas terapêuticas recomendadas, especialmente quando há sinais indiretos de refluxo em crianças.
Outro fator de atenção é que o café pode agravar quadros de rinite alérgica e sinusite crônica, não de forma direta, mas por favorecer o refluxo que, por sua vez, inflama as vias aéreas superiores. Além disso, a cafeína pode interferir no padrão de sono e descanso, o que reduz a imunidade e aumenta a susceptibilidade a infecções de vias aéreas superiores — que são justamente as queixas mais frequentes nos consultórios de otorrino pediátrico.
Portanto, a orientação médica deve incluir o alerta aos pais sobre os riscos do consumo de café em crianças. Substituir o café por bebidas sem cafeína é uma medida simples e benéfica. Evitar a cafeína é não apenas uma questão de saúde geral, mas também de prevenção de sintomas otorrinolaringológicos relacionados ao refluxo e à irritação crônica das vias aéreas.
Dr.Fábio Alencar
CRM 39762 | RQE 2955