PERDA DE OLFATO E SUAS CAUSAS:

O olfato é o mais complexo dos cinco sentidos. Os seres humanos apresentam a capacidade de identificar cerca de 1 trilhão de odores diferentes e tal sentido está diretamente ligado a gustação (capacidade de sentir o gosto dos alimentos).
Perdas de olfato trazem um grande prejuízo para a qualidade de vida gerando grande ansiedade ao paciente.
Muito antes do início da pandemia por covid-19, diversos estudos publicados em revistas de impacto identificavam variadas causas de perda de olfato. Estima-se que cerca de 85% das perdas olfatórias estão relacionadas a quadros de rinites e rinossinusites, traumas e infecções de vias aéreas superiores por causas virais.

MECANISMOS DA PERDA OLFATÓRIA POR COVID:

A perda completa do olfato (anosmia) ou a sua redução (hiposmia) são sintomas comuns em quadros de infecção por covid.
Estudo de meta análise publicado em 2020 na revista Laryngoscope com 27.492 pacientes estimou que 48 % dos indivíduos acometidos por covid-18 apresentam distúrbios de olfato.
Muitas vezes tal sintoma aumenta a suspeição da doença quando a mesma se apresenta de forma branda e inespecífica.
A perda olfatória em decorrência da infecção por coronavírus pode ser explicada por três efeitos distintos:

1. Efeitos na própria cavidade nasal, como obstrução nasal, secreção ou edema: Nestes casos a perda olfatória costuma se apresentar de maneira transitória, com duração de 8 a 12 dias. O tratamento adequado costuma resultar em resposta mais rápida.
2. Perda olfatória neurossensorial por alteração nas células nervosas responsáveis pelo olfato: A lesão pode ser temporária (com duração que pode chegar a alguns meses) ou irreversível. O tratamento nestes casos deve ser mais prolongado e seu sucesso está diretamente relacionado a adesão e disciplina do paciente.
3. Perda olfatória por lesão central: Alterações cerebrais, como encefalite, em decorrência da infecção por coronavírus podem ser responsáveis pela perda de olfato com tempo prolongado de evolução e chance razoável de irreversibilidade.

A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO OTORRINOLARINGOLÓGICA E TESTES OLFATÓRIOS:

Todo paciente acometido por infecção por coronavírus que apresente queixas nasais, dentre elas a perda olfatória, deve ser avaliado por otorrinolaringologista. Tal avaliação envolve uma anamnese adequada e o próprio exame físico otorrinolaringológico com avaliação da cavidade nasal, oral e ouvidos.
Quando há queixa de diminuição do olfato ou sua perda é recomendada a aplicação de teste objetivo que permita a identificação e classificação da perda olfatória. O teste olfatório é aplicado em consultório por especialista e permite uma avaliação mais apurada da perda e seu acompanhamento durante todo o período de tratamento. Consiste na testagem de odores padronizados por estudos internacionais validados no Brasil gerando uma pontuação e posterior classificação em: Olfato normal, Hiposmia (Diminuição do olfato) leve, moderada ou grave e anosmia (perda total do olfato).
Sem o teste olfatório aplicado em consultório a avaliação da perda olfatória e da resposta ao tratamento se torna algo muito subjetivo gerando dificuldade na identificação do progresso, retrocesso ou estagnação.

O TRATAMENTO DAS PERDAS OLFATÓRIAS ASSOCIADAS A COVID:

Até o momento os especialistas utilizam-se do embasamento científico das perdas olfatórias por outras causas virais para elaborar e individualizar para cada paciente o melhor tratamento. Medicamentos tópicos nasais e medicamentos orais podem ser utilizados conforme avaliação de cada paciente. O grande pilar do tratamento é o treinamento olfatório, que consiste na exposição diária a odores padronizados, duas vezes ao dia, por período prolongado. Excelentes resultados têm sido vistos para as mais diversas causas de perda olfatória e estudos com Covid encontram-se em andamento. É importante salientar a possibilidade de uma parcela dos pacientes apresentarem quadro irreversível, sem melhora apesar das diversas estratégias terapêuticas.

Dra. Marcella Campello
Otorrinolaringologista – Membro do Corpo Clínico NOOBA
CRM-BA: 23.939 | RQE: 17.473